Após vários anos de um beber
progressivo, minha esposa finalmente, desistiu de lutar. Tendo passado semanas sem comer e secando incontáveis garrafas de
vodka, foi parar no hospital, em estado de coma do qual não havia expectativa de
recuperação. Eu tinha perdido
completamente a vontade de ajuda-la.
Nada do que eu tinha feito parecia fazer nenhuma diferença. Tornei-me totalmente indiferente; se ela
morresse, pelo menos eu poderia retornar a uma vida normal e ordenada. Onde o Al-Anon me falava para me desligar com
amor, eu me desligara com implacável eficiência e total indiferença.
Eu me sentava na beira da
sua cama, segurava a sua mão, e conversava com ela, apesar de que,
naturalmente, não havia resposta alguma.
Companheiros do Al-Anon e de AA que conhecíamos (e muitos que não
conhecíamos) pareciam estar sempre lá.
Eles rezavam por ela – e por mim.
Um dia tive uma experiência
que mudou minha vida. Era verão, os pés
da minha esposa estavam descobertos, e notei que suas unhas estavam compridas,
recurvadas e feias. Pela primeira vez
percebi quanto ela havia se negligenciado, apesar de haver sido outrora uma
linda garota, sempre bem vestida. Que
terrível mudança tinham ocasionado os anos de alcoolismo. Pela primeira vez pude separar a doença do
alcoolismo da mulher maravilhosa de quem eu me lembrava. Como um dilúvio, todo o meu amor por ela
retornou num ímpeto, e voltaram todos os bons anos e a felicidade que ela me
tinha dado. Acho que deliberadamente eu
os havia posto para fora da minha mente.
Ali estava minha querida esposa, cuja luta interminável contra a
terrível doença, eu nada tinha feito para apoiar. O Al-Anon me dizia para me desligar da doença,
não da pessoa. Que direito tinha eu de
ser tão indiferente?
Sentei-me a seu lado e orei a um Deus que eu não aceitava. Seria a imaginação que sugeria alguma reação
na mão que eu estava segurando? Alguns
dia depois, houve uma resposta clara no seu aperto de mão e pouco depois ela
abriu os olhos. Apesar de que ela nunca
vai se recuperar inteiramente, ela agora está de volta, em casa, e é capaz de
cuidar de si mesma durante o dia. Agora
ela é simplesmente a coisa mais preciosa da minha vida. Eu já não sou a mesma pessoa. O espírito que por tanto tempo esteve morto
em mim, agora renasceu.
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