XIV ENCONTRO GRUPOS FAMILIARES AL-ANON ES - ATRAÇAO NA RECUPERAÇAO - PERSEVERANÇA E ACOLHIDA


 É com grande alegria que sábado , dia 25 de outubro iremos iniciar nosso Encontro às 9:00horas, XIV ENCONTRO  - ATRAÇÃO NA RECUPERAÇAO - ACOLHIDA E PERSEVERANÇA QUE SERÁ REALIZADO NO ESPAÇO MARTINA TORLONI, PRAINHA, VILA VELHA, ES.

GRUPOS FAMILIARES AL-ANON ES CONVIDA A TODOS OS SEUS MEMBROS A PASSAR UM DIA BASTANTE ACOLHEDOR E COM MUITA VONTADE DE NOS INTEGRARMOS PARA QUE CADA VEZ MAIS CUMPRAMOS A DECLARAÇAO DO AL-ANON!

MUITAS 24 HORAS DE MUITA SERENIDADE


COORDENADORA DA AREA DO ES

obs. FAVOR CHEGAR ÀS 8;00 HORAS PARA TOMAR COM A GENTE UM DELICIOSO CAFÉ DA MANHÃ.

AS INCRIÇOES PODERAO SER FEITO NA HORA . VALOR: R$ 50,00

CAMINHO DE ESPERANÇA

Agradeço ao meu poder superior, cada dia que eu vivo, o sabor de cada momento, o sentir das palavras, dos momentos , dos caminhos, da minha respiração, das batidas do meu coração e a vontade de cada dia trabalhar minha recuperação.

Hoje está sendo um dia muito especial para mim. Estou dentro de um processo depressivo e estou sentindo esperança que estarei melhor . Tenho momentos alegres, mas dentro de mim não sinto felicidade. Mas hoje algo diferente começa a acontecer. Todas as semanas, indo ao Al-Anon, recebo cada vez mais mensagens compartilhadas das pessoas que falam sobre suas experiências e carregando "minhas baterias" vou cada vez mais sentindo uma paz interior e uma esperança muito grande de que esta tristeza profunda vai se desmanchar. É difícil  acreditar que não convivo com o Alcoolismo a 12 anos, e ainda possuo instabilidades emocionais e desequilíbrios mentais e, graças ao poder superior, conto integralmente com meu alcoólico pela minha recuperação. Sou muito feliz com ele.  A sua recuperação em Alcoólicos Anônimos e a minha no Al-Anon faz com que vivamos cada 24 horas , um relacionamento de amor , respeito e cumplicidade.

Só por hoje!

BOM DIA!

            Só por hoje desejo a todas as pessoas um bom dia, excelentes 24 horas, e que tentamos entregar nossos problemas aos cuidados de um poder superior , porque só assim com muita paz em nossos corações possamos cuidar de nós mesmos e dos nossos entes queridos que estão precisando muito de nós.

Muita Serenidade!

VIDA ESPERANÇA VIDA

                                                          Hoje está um dia frio, frio na alma, frio..... preciso me aquecer, preciso de força para sentir novamente felicidade , esperança,  fé . Acreditar que a vida é algo muito mais do que sentir frio.... Tem um sol lá fora, e a cada instante preciso acreditar que mudando apenas um pouquinho poderei caminhar em direção da chama da vela que está ainda apagada na gaveta e poderei acender com um gesto de esperança e respirar com força e pedir a todos que me amem um abraço com uma energia plena de amor .       Hoje é um dia muito importante para mim, pois encontrarei meus amigos  na reunião de Al-Anon e poderei compartilhar os meus sentimentos na certeza de que tudo vai passar.

ENTRE O MEDO DE JACARÉS E A DEVASTAÇÃO DO ÁLCOOL

Leonencio Nossa - O Estado de S. Paulo

É madrugada em Parintins (AM). Às 5 horas, deixamos o cais numa voadeira alugada. O Amazonas, com águas paradas, é dourado nas primeiras horas do dia.

Depois de 40 minutos, passamos pela comunidade Imaculada Conceição, também na margem esquerda, formada por dez casas de madeira ao redor de uma igreja. Mais à frente, fica a comunidade Menino Deus. Um menino rema com a canoa. A voadeira para ao lado de uma embaúba, árvore tomada de formigas. Ricardo de Souza Ramos, de 12 anos, está na 6.ª série. Acordou às 4 horas. Com malhadeira, pegou tambaquis e curimatãs. Geralmente, captura de 10 a 15 peixes por dia.

Uma mulher e uma menina pequena remam ali perto da comunidade. Os raios do sol iluminam a proa da canoa. A criança, uma menina morena, de cabelos amarrados, joga o remo para a frente. Dá uma curvada com os braços e mergulha o remo na água, como se fosse gente grande. Chama-se Jocinara e tem apenas 6 anos.


Jocinara ajuda a mãe a remar a canoa perto do povoado de Menino Deus. 
FOTO: CELSO JUNIOR/AE


Laudicéia Silva Ribeiro, de 24 anos, é mãe de Jocinara e de outras duas meninas, Jociane, de 4 anos, e de Graziela, de 3. Conta que a escola da filha fecha em toda cheia do rio. Quando o nível do rio sobe, além de as crianças perderem aula, o alimento fica escasso, a vida, mais difícil. “No verão é só trabalho. A gente planta melancia, feijão e milho na várzea. E arrenda terras dos outros para aumentar a roça. Metade da plantação fica para a gente e metade para o dono da terra.” O plantio começa em agosto, quando o nível do rio está baixo.

Laudicéia diz temer os grandes jacarés. Recentemente, moradores da comunidade mataram um animal de 6 metros de comprimento. Há três anos, um jacaré cortou a “cana” do braço de um menino.

O temor dos répteis já tinha sido registrado numa das descrições mais antigas da vida na Amazônia. No século 18, o padre João Daniel anotou em seu Tesouro Descoberto no Máximo Rio Amazonas que, para os nativos, “o jacaré é a pior cousa que cria o Amazonas”.
“Se não matar, ele fica ajeitando, a gente tem de ter a prudência de matá-lo”, diz Laudicéia. “Um casco como este em que estamos não é nada para ele.”

Cunhado. Em minutos, a ribeirinha toma confiança e começa a falar de um drama que a assusta até mais que os grandes jacarés: o alcoolismo, que atinge várias famílias locais. Laudicéia conta que o pai abandonou sua mãe por causa da bebida. “Aqui, na comunidade, não se vende bebida. Mas quem gosta não acha distância. A bebida persegue a comunidade.”

“A gente não está com o coração bom para suportar essas coisas. Um cunhado há pouco tempo saiu para pescar e morreu afogado”, conta. “Tinha bebido. Um homem não morre afogado quando está bom da cabeça.” O cunhado, Raimundo Graça Pantoja, tinha 31 anos. Deixou quatro filhos.

Laudicéia diz que o marido, Graciélio, de 28, não bebe. Ele, porém, sofre com o alcoolismo do pai. “Meu sogro é boa pessoa. Quando bebe aparece com um terçado querendo matar todo mundo. Não sabe o que está fazendo. A gente fica com medo. Graças a Deus, meu marido não bebe. Ele tem raiva do pai.”

As mulheres e os líderes das comunidades da região não sabem como lidar com o problema, diz Laudicéia. “Quando falta dinheiro e começa o desespero, os homens tomam óleo diesel dos tambores nos barcos.”


Texto extraído de: O Estadão em  21 de março de 2011 | 23h 59






NÃO NEGUE AMOR AO PRÓXIMO

"Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine.
E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria.
E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.
O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece.
Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal;
Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade;
Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá;
Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos;
Mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado.
Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.

Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido.
Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor." 1 Corintios 13


CARTA DE RESGATE

Dependente escreve depoimento para ajudar seu amigo internado em uma clínica de recuperação. Conheça a Carta de Resgate. 

Caro amigo(a) em recuperação,
Fico imensamente feliz em poder compartilhar o que foi o álcool e as drogas em minha vida. Como entrei nesse mundo, o que vivi e como consegui me recuperar. Deixo aqui um depoimento do que foi minha trajetória diante do álcool e demais drogas.
Nunca sabemos quem será um dependente, muitas são as causas do uso frequente e indiscriminado do álcool: por carências, por falta de autoestima, por decepções, por falta de coragem em enfrentar o duvidoso; o que pode levar ao vicio, à dependência. Um fator que faz fatalmente a diferença é a existência da carga genética.
No meu caso o que me levou a beber cada vez mais e mais provavelmente, foi a carga genética. Existiam casos em minha família, pelo lado do meu pai. Familiares próximos de pessoas alcoólatras, apresentam um risco quatro vezes maior que indivíduos que não têm familiares alcoólatras.
Sempre tive o álcool na minha família, desde criança presenciei cenas de violência, desamor, dissabores, falta de autoestima, falta de dignidade e coragem, em meu querido pai, que também foi um doente do álcool, e por esta razão veio a falecer.

Meu pai não era uma má pessoa, muito pelo contrário, mas, se tornava uma pessoa decadente quando estava fora de si e sob o efeito do álcool. Pois quando ingerimos qualquer tipo de droga deixamos de ter uma alma autêntica, passamos a ter um eu que não existe quando estamos sãos ou sóbrios.
As características que meu pai apresentava eram resultantes da doença que também adquiri por herança genética.
Eu deveria ter me tornado justamente o inverso de meu pai, ter observado mais o que acontecia com ele, ter mais audácia, mais amor e ser uma pessoa sempre alegre, amorosa, que deixasse meus familiares satisfeitos em ter minha companhia por perto, mas não, não tive maturidade para separar as coisas e aos 18 anos comecei no caminho do álcool também.
Pensava que tinha controle sobre a bebida, a usava porque ela dava prazer, alegria, trazia conquistas, como aquela mulherada que víamos nas propagandas de televisão são lindas ali no reclame, né?. Mas não foi isto que aconteceu.
Com o passar dos anos, eu precisava de mais e mais álcool, pois o organismo se torna tolerante a bebida e cada vez mais precisa de uma quantidade maior para ter as mesmas sensações daquela única cervejinha que tomava quando comecei a beber.
Então as doses foram aumentando e os tipos de bebida também. Até que um dia, não mais satisfeito de beber tanto, parti para outras drogas, como a cocaína. Também foram aumentando as amarguras de minha família e minha autoestima – meu amor próprio e minha vontade foram se dissipando, foram indo embora.
Isso começou a afetar de forma intensa a família e pessoas muito amigas, que penavam em ver-me caindo nas ruas ou causando problemas, confusão e quase mortes em vários lugares.

E quanto as belas mulheres das propagandas de televisão, você deve imaginar o que encontrei.
Estava frequentado lugares que sempre temi, como as biqueiras onde buscava minhas “droguinhas”. Estava andando com pessoas, que muitas pessoas nem passavam perto, de temor, e isso só me afundava, me levando a um abismo sem fim, e assim fui destruindo minha moral perante a sociedade. Cada vez que colocava em meu organismo estas substâncias alcoólicas ou químicas, me tornava cada vez mais um antissocial.
Minhas alucinações, delírios e crises começaram a surgir, cada vez mais e com maior intensidade. Não vou lhe falar quantas vezes fiquei internado, pois não saberia precisar a quantidade, pois foram muitas vezes.
Um dia não aguentava mais esta vida, ajoelhei pedindo a deus uma saída, pois não aguentava mais tanta depressão, pois a droga tem um ciclo: inicialmente causa entusiasmo, depois vem a perturbação mental e a depressão.
Ai você ingere mais droga para voltar a se entusiasmar. É uma bola de neve. Quando menos esperamos nos tornamos um dependente.
Deus me ouviu e mandou um anjo em minha casa, um amigo que não via há muito tempo, também dependente.

Este meu amigo chegou num sábado pela manhã aqui em casa, eu estava acordando de uma ressaca brava, ele me convidou à participar de um grupo que ele estava frequentando e me disse que estava em abstinência do álcool e drogas há mais de 06 meses.
Inicialmente não acreditei no meu amigo, mas pensei na hora, este é o sinal de deus! Pois se este meu amigo que tanto bebeu e se drogou conseguiu parar, por quê eu não vou conseguir? Por quê?
Resolvi me dar uma chance e fui frequentar o mesmo lugar que estava auxiliando o meu amigo em sua recuperação.
Hoje estou há meses sem ingerir nenhum tipo de substância nociva ao meu organismo.
Deixo aqui pra você duas frases para reflexão:

Drogas são subtração!
Viver sem elas é evolução!

Depois que deixei as drogas observei que meu ciclo de amizades voltava a ser interessante e que me agregavam muitos valores, além de estar reconquistando minha família que hoje vive muito feliz, e até voltou a me convidar para as ocasiões familiares ( pois antigamente eu era o excluído).
Também resolvi investir na prevenção ao uso abusivo de drogas e fiz treinamento no denarc, me tornando um agente de prevenção ao uso de drogas.

Através de cursos e palestras que ministro hoje e grupos de recuperação, me motivo cada dia mais a manter a distância desta vida ilusória e a resgatar e prevenir vidas.
Concluindo, a dependência é lenta, progressiva e tem um ciclo certo se não interrompido a tempo: começo, dependência e morte!
Dizem que na vida das pessoas dependentes, existem 3 c’s: caixão, cama ou cadeia, eu vivenciei dois deles, e graças a deus, ao meu amigo e a mim que me dei esta chance, estou muito vivo e continuarei por muitos anos, para poder dar minha contribuição a quem ainda não se recuperou desta doença tão sofrida pra quem adquiri e para os familiares, pessoas que nos amam, que sofrem muito.
Espero que este relato lhe ajude e que você acredite sempre na força do amor divino. Pois deus nunca lhe abandonará e os familiares que realmente o amam, sempre estarão a sua volta, mas honre sempre este amor e tome a atitude que julgar adequada para chegar a ter uma boa qualidade de vida, pois só você pode decidir por isto!

Temos aqui em SP a associação antialcoólica onde busquei ajuda, por orientação do meu amigo, considero vital participar de grupos assim, pois você só terá conquistas ao lado de uma organização de dependentes e ao lado de deus te segurando, e o apoio incondicional da família que é o esteio que necessitamos sempre!


Com muito carinho, amor e desejo de sucesso,

X.


Esta carta foi enviada em 02/03/2008 para um amigo internado em recuperação.

Texto retirado do site:


RESSENTIMENTOS

Lutamos para nos libertar dos ressentimentos, mas eles são como ervas daninhas cujas raízes são muito fortes. Quando permitimos, os ressentimentos apagam todos os outros sentimentos que possamos ter. Destroem nossa serenidade, arruínam nossas relações, nos tornamos pessoas amargas e isoladas.


Os ressentimentos começam com uma mágoa, até um ressentimento firme, e chegam ao ódio e à sede de vingança.



O que usamos para alimentar nossos ressentimentos:

– Coisas que fizemos contra nós que consideramos egoístas e com falta de consideração.

– coisas amáveis que as pessoas poderiam ter feito por nós e que não fizeram.

– Coisas que as pessoas não fizeram o suficiente por nós.

Como os ressentimentos nos afetam:

– Não conseguimos tirá-los de nossa mente.

– Ficamos tão concentrados na pessoa que ressentimos que não conseguimos fazer coisas mais agradáveis.

– Sentimo-nos magoados e frustrados a maior parte do tempo.

– Sentimos pena de nós mesmos, pelo muito que sofremos.

– Nos irritamos com as outras pessoas e nossas relações com elas são afetadas.

– Apresentamos sintomas das emoções desagradáveis que não expressamos, como: dor de cabeça, dor de estomago, músculos doloridos, etc.

– Achamos que todas as pessoas são más, sem consideração por nós.


O problema maior com os ressentimentos é que eles gastam uma quantidade enorme de energia. Podemos ficar amarrados neles e quando isso acontece nosso crescimento emocional e espiritual é detido.

Quando perdoamos, nos livramos dos ressentimentos. Perdoar exige tempo, paciência e muita responsabilidade. Precisamos talvez primeiro perdoar a nós mesmos antes de perdoar aos outros. Nossa meta ao perdoar consiste em curar as velhas feridas para pôr fim aos ressentimentos e ir em frente em nossas vidas.

Sugestões para ajudar a perdoar

1. faça uma lista de todas as pessoas que precisa perdoar, inclua-se nesta lista. Por que você precisa perdoar essas pessoas?

2. Que danos os ressentimentos estão causando? Quais as conseqüências?

3. Escreva os pensamentos negativos que você têm a respeito dessas pessoas.

4. Escreva as formas como você age com essas pessoas: como as evita, contando piadas ou fazendo comentários sarcásticos sobre elas, como as ataca, etc.

5. Assuma o compromisso de parar com esses pensamentos e ações, o que for possível. Começar com uma ou duas pessoas da lista.

6. Faça uma outra lista. Escreva três qualidades de cada uma dessas pessoas. Relaxe, respire profundamente. Comece a pensar em cada uma dessas pessoas como um ser humano único. Mantenha um enfoque positivo.

7. Muitas pessoas podem começar a perdoar as outras orando por elas. Outra forma consiste em ter pensamentos positivos sobre elas.

8. Escreva três coisas positivas que pode fazer com ou por elas. Procurar colocar isso em prática (perdoar é um processo gradual).

9. Lembrar das frases: "Terei paciência comigo". "Sem condições", não esperarei nem exigirei nada das pessoas a quem perdoar, inclusive que me perdoem. "Perdoar é bom para mim, não para os outros".



10. Para poder se perdoar, procurar toda ajuda possível, dos amigos, terapeutas ou guias espirituais.

Como evitar a formação de novos ressentimentos:

1. Lidar com o problema real, sem aumentá-lo. Manter-se realista.

2. Manter-se ativo. Os ressentimentos se formam quando se está inativo. A pessoa começa a de sentir impotente e sem esperança. Não permita se sentir ou agir como uma vítima, cheia de autopiedade.

3. Manter-se no dia de hoje. Não voltar às velhas feridas.

4. Manter o foco no assunto. Não se esquecer que são certos comportamentos da pessoa que o desagradam e não a pessoa em si.

5. Procurar ajuda, quando necessária. Não deixar que a mágoa se transforme em ressentimento e ódio.

6. Não permitir que sua serenidade dependa de outra pessoa. Você é responsável por ela.


* * *
"...esse negócio de ressentimento é infinitamente grave, porque quando estamos abrigando esses sentimentos, nos afastamos da luz do espírito."  (Na Opinião do Bill, pág 5)



Vivência n° 77 – Maio/Junho 2002

REENCONTRO

Reencontrei alguém que eu perdera para as drogas e estou vivendo um milagre.
Tudo o que acontece, desde o momento em que desperto pela manhã até o momento em que adormeço a noite, eu percepciono de uma nova forma.
Até meu sono mudou. Saiu do estado de alerta.
Eu tinha um sonho recorrente no qual nós dois vivíamos felizes até que, por descuido, ele ingeria algo que continha um veneno letal.
Mas ele continuava feliz, ignorando o fato de estar envenenado.
No entanto eu perdia minha alegria para o reconhecimento da eminência do seu fim.
O sonho a noite e, durante o dia a consciência de que ele estava se destruindo.
Eu deveria tê-lo esquecido, mas nunca consegui.
Um raro caso onde o medo de perder para sempre foi maior do que a esperança de ter de volta. E que, ainda assim, resultou no reencontro.
Hoje estou em modo descanso - mesmo que esteja correndo numa esteira fazendo um exame de esforço, me sinto descansada.
Descansada de um medo que assombrou minha vida todos os dias durante décadas.
Medo de que ele desistisse e deixasse que o álcool e as drogas determinassem o seu fim.
Quem sente esse medo sabe as proporções que ele pode tomar.
O mais tranquilo passeio num parque florido em plena  primavera é tenso.
O mais leve sorriso esboçado num momento feliz é pesado.
Nada é leve. Nem mesmo a fé.
Quando tememos perder alguém para as drogas, a fé que temos carrega o peso da desilusão.



Eu e ele temos quase a mesma idade. Vivi no máximo um ano neste mundo sem sua presença.
Não lembro da minha vida sem ele.
Mas aquele garoto, com quem brinquei e briguei na infância e com quem contava para viver minha adolescência, desapareceu em algum lugar na estrada da juventude.
Não desapareceu subitamente. Ele foi sumindo aos poucos. Como se tivesse pego a bifurcação da estrada sem olhar pra trás.
Eu permaneci lá, naquela bifurcação, olhando seu vulto cada vez mais distante.
Sei que a minha vida seguiu e que foi fruto da minha própria caminhada.
Mas sempre vivi com a sensação de que estava lá, parada, esperando ele voltar.
Até que ele voltou.
Voltou aos poucos, assim como se foi.
A volta é lenta, talvez mais lenta que a partida.
Como uma imagem distante vindo em minha direção, ele foi ficando cada vez mais nítido.
E eu o reconheci.
Um difícil reconhecimento, décadas depois.
Mas eu o reconheci.
Primeiro a respiração.
Depois o tom da voz. 
E no mais sublime momento, reconheci a direção e a profundidade do seu olhar. 
A mesma de quando éramos crianças.
Neste olhar estava clara a decisão de lutar pela vida.
Decidiu viver, só por hoje
É um vencedor.
O maior dos vencedores.
Vence a si  mesmo, um dia de cada vez.
Hoje ele leva uma vida simples e calma.
Mantém dia a dia uma rotina que lhe protege das armadilhas do vício - do perigo das bifurcações.

Num dia quente deste verão eu o vi inteiro na minha frente.
Ele me convidou para tomarmos um sorvete.
Fiquei olhando embevecida ele tomar seu sorvete como quem toma de volta a adolescência roubada. Como quem toma a vida levada num sequestro impagável.
Ao seu lado eu era uma garotinha orgulhosa de tê-lo comigo.
Um orgulho sem razão.
Orgulhosa por ele estar ali, somente.
Nada do que eu dissesse ou fizesse demonstraria o que eu estava sentindo.
Graças a Deus existe o silêncio.

A decisão de voltar foi dele e cabe somente a ele decidir se vai permanecer.
Reconheço que cada instante ao seu lado é uma dádiva.
As minhas orações são para que ele fique. Para que ele nunca mais vá embora.
Passaram-se meses desde sua volta.
Porém, mesmo que tivesse sido um único instante já teria valido a espera.
Não ouso pensar no amanhã.
Encontros são bênçãos.
Reencontros são milagres.























Texto extraído do Blog "Grayceando":





UMA TARDE SOMBRIA

A tarde era sombria.

O frio e o vento caracterizavam Rio Grande no inverno.

De avental branco, óculos no rosto, livro de anotações embaixo do braço, documentos policiais e caneta na mão, por mais uma das inúmeras vezes, entrei no necrotério do Posto Médico-legal onde exerço a função de perito médico-legista.


O trabalho seria igual a tantos os outros: buscar através de necropsia a causa da morte.

Diferentes estavam os estados de meu espírito, minha alma e meus sentimentos. Nem sempre são os mesmos. Variam por fatores que desconheço.

É verdade que a rotina do trabalho tornou-me mais duro embora nunca tenha conseguido fazer-me insensível. Não raro percebo alguma lágrima rolando pelo rosto. Rapidamente seco e sempre atribuo a algum cheiro mais forte.

Por vezes olho o Cristo que coloquei na parede e pergunto: - por quê? Estranho, mas sempre ouço alguma resposta.

Em cima da mesa fria o corpo de um homem, meia idade, quase igualmente gelado e rígido. As vestes maltrapilhas trajadas como uniforme do abandono; o rosto inchado por edema; barriga crescida por ascite; feridas em antebraços e pernas por pelagra, pelos púbicos com implantação feminina por alteração hormonal; musculatura frágil por falta de proteínas, cheiro fétido por esquecimento dos hábitos de higiene.

Olhei para o meu auxiliar e fiz o diagnóstico: - mais um bebum! Cirrose!

A necropsia transcorreu com a frieza e a técnica científica necessária. O diagnóstico foi mesmo de cirrose. Fígado destruído, baço aumentado, varizes no esôfago, edema no cérebro, inflamação no estomago repleto de liquido transparente com cheiro forte de álcool. Mas a tarde era sombria, havia frio e vento e meu espírito, minha alma e meus sentimentos, igualmente, pareciam combinar com o clima.

Olhei para o corpo do homem, suas roupas, sua condição e mais uma vez sequei uma lágrima que rolava pelo rosto. Talvez fosse do cheiro forte do formol que havia na sala.

Quando percebi que não havia formol na sala deparei-me com meu pensamento imaginando a história daquele homem, suas razões, seus sofrimentos.


Teria conhecido os pais? Tido irmãos? Teria estudado, trabalhado? Teria amado? Também teria sido amado? Teria constituído uma família com casa, mulher, filhos, cachorro, sogra? Afinal, qual seria seu desencanto? As injustiças do mundo? Teria a vida sido a ele mais justa que a tantos outros?

Minha reflexão não trouxe qualquer resposta. Por mais que formulasse perguntas a mim mesmo, mais dúvidas encontrava.

Saí da sala de necropsias convencido que seria inútil buscar respostas. Era mais um bebum morto, mais uma cirrose diagnosticada. Nisso não havia novidade; diferentes estavam meu espírito, minha alma e meus sentimentos... Sombrios como a tarde.

Entrei no setor administrativo do Posto para preencher a Declaração de Óbito.


Num banco pobre de madeira estavam sentados a esposa, um filho e uma filha. Olhei para todos e a cada um deles. Penetrei profundamente em suas almas por seus olhos parados. Por instantes conversamos sem trocar uma palavra. Eu não estava ali para anunciar a morte que eles já sabiam, nem para dar um diagnostico que, igualmente, conheciam. Eu apenas estava ali, em nome da lei, para entregar-lhes um documento que possibilitaria o enterro do cadáver de um esposo e pai.

Olhei a mulher e conversamos. Soube que estavam separados fazia algum tempo. Depois de muitos anos de sofrimento, havia buscado viver sem marido. Ela não chorava de derramar lágrimas. Em seu semblante havia marcas de vivencias muito mais profundas que as deixadas por sua idade. Não havia ódio. Havia mágoa. Uma profunda mágoa, uma tristeza do tamanho do mundo. Seu depoimento, insistindo em testemunhar que quando ele não bebia era um homem bom, saía por voz serena, sem culpas ou lamentos. Dava a perceber que o amor que havia existido deixou algum tipo de sentimento bom. Não sei qual. Restava, talvez, alguma lembrança. Quem sabe do primeiro beijo, pensei eu.

Depois olhei o filho. Tinha os olhos de quem não havia chorado uma disposição de manter-se firme. Não consegui encontrar desprezo em sua expressão. Havia dor. Seu herói havia tombado. Não havia mais tempo de retomar qualquer conversa.


A filha não se importava de esconder o choro. Adolescente mais nova que o filho estampava em seu rostinho um misto de pena e saudade. Talvez, pensei eu, lembrasse de um dia do seu aniversario e a presença do pai sóbrio.

Com o olhar da mulher e dos filhos fixados em minha mente voltei para casa.

O dia parecia-me mais sombrio, a chuva e o vento mais fortes.

A mulher não recordou das agressões sofridas. O filho não contou vergonhas passadas. A filha desconsiderou as ausências havidas.

E eu, não havia realizado a necropsia em mais um bebum: havia encontrado o cadáver de um homem que amou, foi muito amado e, lamentavelmente, padeceu de uma doença chamada alcoolismo.



Dr. Flávio Ennes Cardone
Médico Legista/RS

Vivencia Nº111 – Janeiro/Fevereiro - 2008