Perdoe-me
pai, é importante que leia meu desabafo, sempre falei que quando crescesse
queria ser igual ao senhor.
Mas
infelizmente eu mudei de ideia, não imaginava o que sofremos quando anoitece e
não vem para jantar, pois só chega de madrugada assim mesmo embriagado. Olhe,
não me importa que chute os meus brinquedos, pise-os e atire contra a parede,
bata raivosamente em mim sem motivo quando lhe pergunto: por que o senhor não
deixa de beber. Pai não me envergonha de usar roupas velhas, sapatos furados e
nem me incomodo com o pouco alimento que como. Na verdade nada disso teria
importância se o senhor não bebesse. Por favor, não fique parado nos bares
perdendo seu tempo, seu dinheiro e, sobre tudo sua saúde, bebendo e farreando
ao lado daqueles que dizem ser seus amigos. Lembre-se que nós precisamos do
senhor.
Eu queria
apenas tê-lo em casa toda a noite para dizer antes de deitar: benção pai! Sabe,
eu senti muita pena em vê-lo um dia desses, deitado na calçada. Os garotos que
passavam, começaram a atirar pedras, seus cigarros estavam espalhados pelo
chão, seus bolsos revirados e lá estava uma garrafa de cachaça quebrada em seus
pés. Pedi para que não fizesse aquilo e eles me perguntaram: “Você conhece esse
cachaceiro?...” Poxa pai, tive vontade de dizer não! Mas lembrei que certa vez
me disse: “Filho, o verdadeiro homem não diz mentiras”, então tomei coragem e
respondi: “Sim conheço, é o meu pai”. Eles riram e falaram, se fossemos você,
teríamos vergonha de chamar esse bêbado de pai.
Baixei a
cabeça humilhado, meus olhos se encheram de lágrimas e chorei, tentei erguê-lo
para que levantasse, enxuguei seu rosto suado pelo sol do meio dia, contudo
meus esforços foram inúteis, o senhor parecia não ouvir, dizia palavras
incompreensíveis e rolava de um lado para o outro na calçada imunda.
Os garotos
foram embora dizendo: “Você está lidando com um pau d’água sem vergonha,
deixe-o pode ser que ao tentar atravessar a rua um caminhão passe por cima dele
e o mate". Pai foi duro ouvir aquilo. Eu senti como se o mundo inteiro
desabasse sobre mim.
Antes de
terminar quero que saiba de uma coisa, o voto que fiz de amá-lo e respeitá-lo,
querer lhe bem, hei de cumprir, mas... Quando crescer, não quero ser mais igual
ao senhor.
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