O DILEMA DO CASAMENTO COM UM ALCOÓLICO


A Opinião de um Membro de AA
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Embora ela (a esposa) possa ter aprendido no Al-Anon que ninguém pode entender as motivações de outra pessoa, se sente frustrada pela incapacidade de entender “o que aconteceu com meu casamento”.

A explicação seguinte, por um alcoólico sóbrio em AA, é oferecida como um ponto de vista da situação de um homem.  Pode ou não ser típica, mas ajuda a esclarecer um pouco a atitude do alcoólico recuperado.

“Conversei com muitas pessoas em AA sobre problemas conjugais e suas causas, e o que tenho a dizer aqui é uma espécie de resumo daquilo que sei, baseado em minha própria experiência e naquilo que ouvi de outros.

“O problema sexual do alcoólico que parou de beber parece vir de um condicionamento tão complicado que é difícil, senão impossível, explicar mesmo as versões que conheço.  Quero enfatizar que minhas conclusões não se aplicam a casos gerais, mas apenas a certas situações.

“Acho que muitas vezes poderíamos obter um quadro mais nítido do problema se levássemos mais em conta as razões que deram origem ao casamento e como as personalidades básicas dos parceiros reagem uma à outra.  Por exemplo, uma das características conhecidas do alcoólico é a dependência.  Sua tendência é procurar uma esposa maternal, alguém em que possa se apoiar.  Por conseguinte, quando encontra a mulher com que quer se casar, é uma mulher que tenha instinto maternal altamente desenvolvido e que, por sua vez, queira um homem para mimar e proteger.

“Poderia parecer que duas pessoas desse tipo realmente se completariam e, portanto, realizariam um casamento ideal, pois, cada um supriria as necessidades do outro.  Mas para começar, um relacionamento mãe-filho não é bastante confiável para um casamento adulto.  Independente do alcoolismo, eles já estão se encaminhando para problemas.

“Depois, quando o alcoolismo acentua a dependência do alcoólico e o fardo se torna demasiado para a esposa, ela se refugia em autopiedade e ressentimento.

“Sua atitude frente a ele, embora possa ser inconsciente, não consegue transformá-lo num homem de responsabilidade.  A atitude dele frente a ela, à medida que sua maneira de beber se torna cada vez mais compulsiva, é de um desapontamento inconsciente de que ‘mamãe’ falhou esperando que ele crescesse.


“Quando este homem encontra a sobriedade em AA e realmente pratica o programa dos Doze Passos, com certeza ocorrerão mudanças no seu relacionamento conjugal para as quais nenhum dos dois está preparado.  Ele toma a decisão de crescer, de assumir suas responsabilidades, de fazer sua sobriedade valer em termos de vida adulta.  Ele quer vencer sua dependência e deixar para trás o negócio de ‘mamãe’.  Mas esse desejo, por si só, não pode mudar a atitude ou o comportamento da esposa, e a brecha entre eles aumenta.  Eles jamais poderão voltar às primeiras fases do casamento, pois, ele já não quer se apoiar nela.

“Como desde o início sua esposa tem sido para ele uma imagem maternal, talvez ele também tenha sentimentos profundamente arraigados a respeito de suas relações sexuais com ela, e isso tenderá a fazer com que se afaste dela como parceira no casamento.

“Não estou dizendo que isso seja claramente compreendido pelas pessoas envolvidas em tal situação, mas o sentimento existe e pode transformar o relacionamento do casal em algo que nenhum deles acha tolerável.

“Outra maneira de tentar visualizar essa dificuldade é compreender que o alcoólico é basicamente inseguro e, portanto, procura um parceiro mais forte.  Quer seja a imagem da mãe, a imagem do pai ou a imagem de Deus, em sua mente ele criará aquela que sua necessidade exige e cuidadosamente a protege de qualquer coisa que possa expor sua fraqueza ou reduzir sua importância na sua mente.

“Conheci muitos homens alcoólicos que eram tão fortes e masculinos que ninguém jamais imaginaria que fossem dependentes, particularmente de uma mulher.  Eles podem se queixar de suas esposas de modo superficial: ‘ela é uma péssima cozinheira, uma dona de casa desleixada, não faz nada a não ser ir ao cinema e jogar cartas’.  Mas essas queixas são apresentadas apenas como uma desculpa para beber e, portanto, nada significam.  Eles nunca falam de suas esposas como pessoas fracas, desamparadas ou burras.  Isso eles nunca fariam, porque estariam destruindo o baluarte de proteção que suas esposas representam para eles, seu escudo contra um mundo ameaçador.



“O alcoólico muitas vezes atribui à esposa características e atitudes que existem unicamente em sua mente.  Ele pode coloca-la numa posição de superego, uma espécie de divindade, não uma divindade meiga e indulgente, mas punidora.  Isso também satisfaz uma de suas maiores necessidades.  Vencido por esse terrível sentimento de culpa, o alcoólico, na realidade, quer ser punido porque quer que sua culpa seja aliviada.  E quando ela o censura, o insulta, briga com ele, o ‘culpado’ sente um alívio como se tivesse pago pelos seus pecados.  Desse modo, ela está fazendo o jogo dele e possibilita que ele encontre desculpas para continuar bebendo.  Ela, ao mesmo tempo, aliviou seus sentimentos reprimidos quanto à irresponsabilidade e negligência do marido, e nessa interação doentia, o casamento com um alcoólico muitas vezes continua ano após ano sem que ninguém faça qualquer coisa para quebrar esta rotina destrutiva.

“Se ela é carinhosa e sofredora, sua imagem aumenta o sentimento de culpa do marido e o impele ainda mais na sua busca de esquecimento no álcool.


“Mas em ambos os casos, quer ele esteja bebendo ou tenha ficado sóbrio, inconscientemente ele a forçou a permanecer num pedestal onde a considera inacessível.  Sendo alcoólicos, nós nos sentimos como uns patifes que não temos o direito de fazer amor com uma pessoa que ocupa tão sublime posição em nossas vidas.  Em alguns casos, sentimos que participamos de prazeres do ‘diabo’ e, por conseguinte, não nos sentimos à vontade com um ‘anjo’.
“Algumas vezes, por causa de sórdidas complicações que podem acontecer durante os apagamentos, ou mesmo devido ao julgamento deturpado provocado pela euforia alcoólica, ele pode equacionar álcool e sexo como males, e tendo tomado medidas para vencer sua dependência pelo álcool, também se afasta do sexo.


“Em outros casos, as dificuldades para fazer um ajustamento sexual depois da sobriedade podem também ser devidas a uma atitude muito rígida por parte da esposa.  Digamos que uma crise levou o alcoólico para AA.  Ele começa a corrigir seus defeitos de caráter e está aprendendo a olhar a vida com mais realismo.  À medida que luta para fazer esta lenta escala de volta à sanidade, sua esposa talvez continue a relembrar suas falhas do passado.  Ela pode se ressentir com a dedicação dele ao AA, que o leva a tantas reuniões.  Em outras palavras, ele está crescendo ao passo que ela está encalhada em seus velhos ressentimentos que a mantêm zangada e confusa.


“Parece-me que a única esperança de resolver dificuldades desse tipo é a esposa recorrer ao Al-Anon, onde ela pode aprender a compreender sua situação mais claramente, e como vencer seus defeitos que contribuíram para a discórdia no seu casamento.  Quando ela descobrir que não está inteiramente isenta de culpa em tudo o que aconteceu, eles podem seguir adiante juntos e estabelecer um relacionamento de respeito, tolerância e afeição mútuos”.
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Trecho extraído do livro O DILEMA DO CASAMENTO COM UM ALCOÓLICO, LAC B-4, Págs: 41 à 45.

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